Wednesday, February 28, 2007

Boa Noite e Boa Sorte

Eu fiquei impressionado com tudo neste filme de George Clooney, "Boa Noite e Boa Sorte" (Good Night, and Good Luck). O filme de curta duração parece um documentário sobre o macarthismo. O período é o da guerra fria, quando sob o pretexto da caça aos comunistas, o senador Joseph McCarthy liderou uma série de atentados aos direitos civis nos Estados Unidos.
O destaque do filme é o âncora da CBS, Edward R. Murrow, em ótima interpretação do ator David Strathairn, que decide questionar os métodos do senador em máterias para o seu programa de TV.
O filme é o enfrentamento entre o jornalista e o poderoso político no contexto de medo e perseguição promovido na época. A fotografia do filme de Clooney em preto e branco é fundamental para o realismo apresentado. Cenas reais, incluindo as que apresentam McCarthy, entram em perfeita conexão com todo o restante do filme, o que realça seu parentesco com o documentário.
O filme é muito feliz ao retratar o clima de perseguição política e o contexto dos anos 50, embora a maioria de suas seqüências se passem dentro dos estúdios da CBS. Das canções que são exibidas em belas interpretações ao elenco bem escolhido, inluindo direção de arte, o filme é uma preciosidade.
E baratíssimo para os padrões americanos, U$ 7,5 milhões. Mais uma prova de que um ótimo filme não precisa de uma cifra magnífica por trás.

Título original: Good Night, and Good Luck/ Direção: George Clooney/ Roteiro: George Clooney, baseado em roteiro de Grant Heslov/ Elenco: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr.

Monday, February 26, 2007

Oscar

Não vi muitos dos filmes mais badalados para o Oscar, mas mesmo assim tinha as minhas preferências. Apesar de tudo que se falou, acho muito bom ver um cara como Scorsese levando os dois principais prêmios da noite. É fato que uma infinidade de diretores e filmes menores levaram para casa uma estatueta que nunca antes havia sido conferida a um cara especial como o diretor de "Cassino". Fiquei feliz com a dupla de atores principais premiados, mas achei pisada na bola o negão Djimon Hounson não levar por "Diamante de Sangue". O oscar honorário para o compositor Ennio Morricone foi muito legal. A homenagem anual aos que morreram no ano anterior é sempre muito bacana. Bem como foi muito bom o painel com filmes estrangeiros vencedores do Oscar. É impressão só minha ou a Ellen DeGeneres é bem menos engraçada do que deveria?

Star Wars

Tudo começou no Carnaval. E terminou este final de semana. O fato é que vi os seis filmes da série Star Wars, começando do "Episódio I - A Ameaça Fantasma" até o "Episódio VI - O Retorno de Jedi". Claro que eu já havia visto todos os filmes antes pelo menos uma vez. Mas é diferente assistir assim, um atrás do outro. George Lucas diz que é um único filme, o que tem uma certa lógica, apesar da sensação de overdose quando se resolve ver todos.
Devo dizer que não sou um fã típico da saga dos Skywalker, dos cavaleiros Jedi.
Mesmo sendo filmes feitos da mesma matéria-prima e com o mesmo grande homem por trás, são bem distintas as duas trilogias. Isso sem falar em diferenças entre os próprios filmes. Ainda mais que dois deles tiveram a mão de outro diretor que não (apenas) a de Lucas - especificamente os episódios V e VI.
Eu confesso que se fosse para escolher, escolheria a trilogia mais antiga, apesar dos efeitos da nova. Se vistos individualmente, gosto mais de o "Império Contra-Ataca", seguido de perto de "A Vingaça dos Sith". Em seguida, por ordem, vem "Uma nova Esperança", "O Retorno de Jedi", "Ataque dos Clones" e "Ameaça Fantasma".
Mas também fica difícil falar assim, porque aquela cena de luta (e toda a seqüência final) do Episódio I, que culmina com a morte de Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) é um dos melhores momentos de luta de toda a saga.
Os três filmes feitos primeiro deixam claras as inúmeras referências em que a saga foi beber para ser o clássico cult que é. Aparecem fácil as referências ao bang bang, aos cavaleiros samurais, à mitologia grega. Os três filmes feitos depois têm esses elementos, mas a ênfase maior é sobre as disputas políticas, lutas coreografadas e efeitos visuais que saltam aos olhos.
Ter voltado para filmar o início da saga foi um trunfo de Lucas de muitas maneiras. E há compensações de um lado e de outro. Na trilogia iniciada no fim dos anos 70, há um Han Solo vivido por um Harrison Ford impagável (melhor nos dois primeiros filmes que no último); o provável maior vilão de todos os tempos na pele de Lorde Vader; e nunca se desconsidere o impacto de uma revolução em efeitos para a época.
Na nova série há mais pressa em mostrar grandes cenários e lutas virtuais, uma após outra, o que rende pouco espaço para respirar. No conjunto, são situações desiguais e motivações desiguais por parte dos realizadores. Mas, do mesmo modo, há também toda uma platéia renovada e com expectativas diferentes.
No fim das contas, dá para se divertir muito com a série. Há momentos fabulosos, engraçados, emocionantes.

Friday, February 23, 2007

Estréias 23/2

Amigas com Dinheiro, de Nicole Holofcener.
Borat, de Larry Charles.
O Passageiro - Segredos de Adulto, de Flávio R. Tambellini.
Operação Limpeza, de Les Mayfield.
Poder Além da Vida, de Victor Salva.
Você é Tão Bonito, de Isabelle Mergault.

Quero ver Borat e Poder Além da Vida.

Nos cinemas de Salvador, em 23 de fevereiro.

V de Vingança

Tive uma pequena discussão com uma amiga ontem por causa de "V de Vingança", o último filme com a assinatura dos irmãos Andy e Larry Wachowski (eles são roteiristas e idealizadores do longa). A direção é de James McTeigue, nome ligado aos Wachowski na trilogia "Matrix". O roteiro de V tem como base os quadrinhos de Alan Moore. Ela disse ter gostado muito do filme, especialmente pela atuação do homem por trás da máscara do V (Hugo Weaving).
V de Vingança foi uma das minhas decepções em 2006. Depois do primeiro "Matrix" nenhum outro projeto nas mãos dos Wachowski chegou tão alto (Reloaded, Revolutions e este V). Só que o primeiro filme "Matrix" é tão legal e diferente que acho quase impossível os Wachowski não voltarem a fazer coisa boa no futuro. Eu aposto nisso.
Não é que esse "V de Vingança" seja absolutamente um erro. Há coisas muito legais. Natalie Portman é uma dessas coisas. Ela está muito bem caracterizada e perfeitamente na atmosfera do filme. Hugo Weaving está bem demais para um personagem que está cem por cento de máscara. Há um elenco de apoio que não está mal, incluindo o vilão vivido por John Hurt. O clima sombrio do filme ajuda muito na concepção de um ambiente de crise e na iminência de uma guerra.
O problema é que o filme não empolga, a história é pouco convincente e as motivações do personagem principal não parecem fortes o suficiente que justifiquem sua trajetória. Há qualidades neste longa e momentos visuais bem resolvidos como a batalha final que roça com a originalidade vista nos bons momentos de "Matrix".
Mas nada disso paga o ingresso, como se costuma dizer. Ganha-se mais ficando em casa ou fazendo outra coisa do tempo livre. Sendo maldoso, eu diria que até entendo porque o célebre quadrinista Alan Moore pediu para retirar seu nome dos créditos. No seu lugar, eu faria o mesmo.

Thursday, February 22, 2007

Carnaval

Aproveitei o Carnaval para cair na gandaia. Vi um monte de filmes em casa e mesmo não podendo iniciar minhas sessões temáticas (por categoria, diretores, atores etc), foi uma farra. Mesmo sabendo que as obras não foram maravilhosas, é sempre maravilhoso passar um período longo na companhia de filmes. Vi filmes que não tinha assistido na época e que queria muito ver (como "Desaparecidas") e revi coisas legais (como "A.I. Inteligência Artificial" e os três primeiros episódios da série "Guerra nas Estrelas"). Espero comentar esses e os inéditos pra mim como "O Exorcismo de Emily Rose" e "A Luta pela Esperança".

Wednesday, February 14, 2007

Matheus Nachtergaele

Matheus Nachtergaele está na minissérie da TV Globo que eu não vejo "Amazônia, de Gálvez a Chico Mendes". Ele é um dos atores mais multifacetados da sua geração. E um dos mais chatos. Pode parecer implicância, mas depois que surgiu bem nos primeiros papéis no cinema e na TV, algo estranho vem ocorrendo. Matheus se repete infinitamente, irritantemente. Quem viu um ou dois papéis seus pode esperar as mesmas caretas nos outros papéis todos, a mesma falsa grandiloqüência, a apararente grande arte que está mais para maquiagem e muleta. Até gosto de papéis que ele representou em momentos distintos do seu início de carreira. O homossexual desaforado da minissérie "Hilda Furação" é um momento inspirado. E não há como não gostar dele em "Cidade de Deus" (embora seja o menos interessante entre todos aqueles atores inexperientes que dão show). Sua carreira é irregular. Onde pode ter mais tempo para construir um personagem, como nos trabalhos para o cinema e para as séries especiais, algo acontece, mas, salvo exceções, não se espere nada genial. Nas telenovelas é responsável por personagens canastrões e caricaturais que querem fazer rir pelo ridículo. Basta ver o Pai Helinho de "Da Cor do Pecado" e Carreirinha da novela "América". Matheus Nachtergaele é daqueles atores superestimados que as pessoas se acostumaram a dizer que é bom ator. É o caso da fama que precede o cidadão. Tem atores que passam a vida repetindo os tiques que construiu e não saem disso. Mesmo nessa categoria podem ser bons ou maus atores. Mas nem todo mundo é Jack Nicholson que pode se dar ao luxo de repetir o mesmo tipo de sempre e ser genial. Uma certa vez entrevistei ele (Matheus, não Jack Nicholson) para o jornal A Tarde, durante uma leitura dramática, no teatro Vila Velha, em Salvador. Ele me pareceu uma figura inquieta, cheio de projetos, pensando em dirigir, na época escrevia algumas críticas de teatro para a Folha de S. Paulo, e pensava em um projeto seu. Ele estava divulgando o filme "Amarelo Manga" que iria estrear em circuito comercial dali há alguns meses. O filme já fazia sucesso de crítica em alguns festivais. Estreado, o filme não fez muitos espectadores. Assisti Amarelo Manga com pouquíssima paciência, porque o filme que me pareceu tedioso e com vontade de ser algo grande que não era. Mateus especialmente faz um homossexual que ele mesmo definiu como "uma bichinha ordinária". O filme como Matheus só me desagradaram, embora seja fã de alguns nomes do elenco como Jonas Bloch, Dira Paes e Chico Diaz (e fiquei fascinado com uma desconhecida Leona Cavalli que me pareceu maravilhosa - a melhor coisa do longa). Matheus é um jovem ator e pode se apegar a algum sucesso que já fez e virar o maior imitador de si mesmo, para sempre. Ou pode ter coragem para atuar de verdade. Acreditando que em arte como em tudo na vida, menos é sempre mais, se fosse para dar um conselho a ele, eu diria: "Menos, cara, menos". Bons exemplos da sua própria geração não faltam. Basta olhar para o lado. Não é mesmo, Lázaro, Wagner, Vladimir, Lúcio, Selton, Bruno?

Tuesday, February 13, 2007

Vingança Final

O longa "Vingança Final" (2003) é um triller policial com pitadas do gênero noir que traz como protagonista um sisudo ex-gangster vivido por Clive Owen, para mim um dos melhores atores surgido nos últimos anos. O filme vai acompanhar a investigação desse homem que retorna à Londres para desvendar o mistério por trás do suicídio do irmão mais novo (Jonathan Rhys Myers).
O personagem de Owen tem ligações com o crime organizado de quem foi figura de destaque até que ele abandonasse tudo por uma vida reclusa e mal tratada. Por três anos, ele abandonou tudo mesmo - o que inclui o irmão mais novo e um grande amor. O irmão suicidou-se tomado pela vergonha de ter sido estuprado. O autor do estupro é um poderoso homem do crime (Malcolm McDowell).
O retorno do personagem de Owen vai movimentar a vida de todos, amigos e inimigos. O filme não é um policial típico nem faz do mistério a sua linha. Sabemos bem cedo quem praticou o crime. E o que vai sendo descoberto não é novidade para a platéia. Também não é um filme sobre o crime organizado em si, porque pouco é mostrado sobre as relações intrínsecas.
O diretor Mike Hodges faz do suspense a sua estratégia para segurar o interesse do espectador, que não sabe qual será o próximo passo de criminosos e do herói. Até certo ponto funciona, mas é decepcionante notar que o filme prolonga demais esse suspense como a promessa de algo que não consegue cumprir de maneira convincente.
O filme se move devagar como o silêncio antes da tempestade. O problema é que a tempestade nunca chega. E a quietude que poderia ser apenas uma preparação para um clímax é a matéria prima do filme. O herói é um homem com um passado cujas ações são difícieis de entender. E o filme não parece preocupado em dar essas respostas, mostrar um pouco mais das motivações desse estranho.
O silêncio do filme é mórbido como o olhar da bela Charlottte Rampling observada por um assassino de aluguel, já nos minutos finais. Ela interpreta o par romântico do personagem de Owen. Aliás, nesta cena específica não se sabe se ela está morta ou se espera pelo personagem de Owen. O filme termina sem ter terminado. Arte? O clima de policial noir nas cores, nas sombras e nas tomadas noturnas funcionam como homenagem. Mas, não, não é um filme noir. É um filme esquisito e sem gosto. Apesar de Clive Owen.

Título original: I'll Sleep When I´m Dead/ Diretor: Mike Hodges/ Roteiro: Trevor Preston/ Elenco: Clive Owen, Charlottte Rampling, Jonathan Rhys Myers, Malcolm McDowell.

Monday, February 12, 2007

Relação Perigosa

Há uma lista honrosa de filmes de suspense feitos em uma única locação que dignificam o gênero. Não é o caso de "Relação Perigosa" (2003) que tem alguma coisa de dezenas de filmes de desajustados - os caras que se apresentam como bons rapazes até se revelarem às suas vítimas. Há um público para filmes baratos, com atores desconhecidos, que exploram histórias curiosas envolvendo violência e engenho. Essa é aquela história que poderia ter sido real e sobre a qual seria fácil falar que "daria um filme".
Um bom rapaz (Kip Pardue), porém de passado e familiares desconhecidos, se apaixona por uma bela jovem (Tara Reid, de "Segundas Intenções" e "American Pie") com quem acaba por se casar. Eles decidem passar uma lua-de-mel paradisíaca em um lugar afastado de tudo, onde a própria casa fica instalada numa minúscula ilha, cujo contato com a terra deve ser feito nadando ou numa canoa. Não é difícil imaginar que a bonita paisagem vai se tornar a prisão da jovem (que não sabe nadar) e o seu marido passará de homem apaixonado a um sujeito agressivo e obcecado com a idéia de manter sua esposa longe de tudo e de todos. É claro que já vimos esse filme, a sua fórmula já foi usada a exaustão em muitas outras produções. É o tipo de filme que, mesmo com boa vontade, quando a gente espreme não sai nada.

Título Original: Devil`s Pond/ Direção de: Joel Viertel/ Elenco: Tara Reid, Kip Pardue, Meredith Baxter, Dan Gunther.

Friday, February 09, 2007

Estréias 9/2

A Rainha, de Stephen Frears.
Antonia, de Tata Amaral.
O Crocodilo, de Nanni Moretti.
Pecados Íntimos, de Todd Field.
Silk - O Primeiro Espírito Capturado, de Su Chao-Bin.

Quero ver A Rainha, Antonia, O Crocodilo e Pecados Íntimos. Não necessariamente nessa ordem.

Nos cinemas de Salvador, em 9 de fevereiro.

Violação de Conduta

Vi outro dia em DVD "Violação de Conduta" que é um filme que repete a parceria que John Travolta e Samuel L. Jackson fizeram em "Pulp Fiction - Tempo de Violência". Os astros, que alçaram muito sucesso depois do filme de Tarantino, fazem o tipo durão em um triller de suspense e guerra tão embolado quanto possível. O filme trata da investigação do desaparecimento de um grupo de soldados e o seu cruel instrutor (Jackson), durante uma tempestade, numa mata rude, no Canal do Panamá. O filme quer ser aquele tipo onde nada é o que parece ser e há uma surpresa atrás da outra, provocando reviravoltas constantes na trama. A intenção parece ser a de fazer o espectador se empolgar a proporção que o filme avança. Porém são tantas as reviravoltas e tantos os nomes envolvidos na investigação que não dá pra não ficar perdidinho. Travolta repete o investigador com paciência curta do filme "A Filha do General", mas o roteiro não é tão bom e limpo quanto aquele. Jackson aparece pouco, mas é uma peça chave do filme, e com seu carisma peculiar não faz feio. Connie Nielsen ("Gladiador") é a encarregada das investigações. Bela, de cabelos bem curtos, ela forma uma boa dupla com Travolta, numa relação que por pouco não cai no romance. Sua atuação é correta e convence. O filme não chega a tanto.

Título Original: Basic/ Direção de: John McTiernan/ Roteiro: James Vanderbilt/ Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Connie Nielsen.

Tuesday, February 06, 2007

Apocalypto

Mel Gibson é um diretor que já deu mostras de seu apreço por sangue e por cenas extremamente violentas. Em seus últimos filmes, não se incomoda de mostrar às platéias o quanto sádico ele pode ser, independente da história que conta.
Em "Apocalypto" temos um filme de ação que chega a um ponto onde poderia se chamar "Corra, Jaguar, Corra". Jaguar Paw é o herói da história. Ele vive com seu povo na floresta da região que hoje é o México até ser capturado e levado para um ritual sanguinolento. Enquanto isso, sua família fica presa num buraco, sua mulher grávida e o filho pequeno ao lado, esperam para serem resgatados.
Jaguar é levado aos sacerdotes, dentro do império Maia, um dos povos ameríndios que mais se desenvolveram no continente até a chegada dos "salvadores" europeus. O filme de Gibson não trata disso, obviamente, passa breve pela civilização Maia - apenas o suficiente para mostrar que pesquisou bem o contexto do que iria filmar.
O filme centra foco na luta e exploração do homem pelo homem, em situações onde se impõe a lei do mais forte. Há uma declaração de Gibson de que o filme falado na língua Yucatán nem precisaria de legendas. Não deixa de ser fato. As cenas são fortes, de impacto e falam por si. Algumas das mais impressionantes quase não tem mesmo fala alguma.
É um filme que te segura na cadeira e mostra um diretor que sabe contar uma história bem contada. Há alguns elementos onipresentes da breve filmografia de Gibson como as seqüências sangrentas, os valores familiares e um herói persistente que está disposto a ir até o fim de sua jornada, custe o que custar.
O final requer que o espectador saiba que a chegada do europeu foi um acontecimento extraordinário. Pelo próprio filme, não há como desprender. Pode parecer uma implicância à-toa, mas me pareceu um pouco demais o grupo se despedaçar atrás de um fugitivo sob todo tipo de perigo, com enorme perda, e desistir tão fácil.
É uma produção caríssima, bem cuidada, com um som excelente, e mostra o quanto o cinemão pode chegar longe quando quer contar uma história com impressionante realismo. E até onde pode chegar um diretor bem sucedido e obstinado como Gibson.

Título original: Apocalypto/ Direção: Mel Gibson/ Roteiro: Mel Gibson e Farhad Safinia/ Elenco: Rudy Youngblood, Dalia Hernandez, Jonathan Brewer.

Friday, February 02, 2007

Diamante de Sangue

"Diamante de Sangue" requer estômago do espectador. Desde o início, estamos diante de terríveis atrocidades cometidas contra homens crianças, velhos e mulheres indiscriminadamente. O combustível de toda a carnificina é o comércio de diamantes na África (precisamente em Serra Leoa) que financia a guerra civil do continente e faz os lucros de grandes empresas de pedras preciosas.
São vários os filmes em um e isso não favorece o longa de diretor Edward Zwick ("O Último Samurai"), mas também não o impede de ser um trabalho espetacular. Pela predominância de perigo a que são submetidos os protagonistas da trama, é fácil identificar um filme de ação (e as cenas de ação são mesmo soberbas, de tirar o fôlego).
Temos ainda um drama nitido que persegue um continente vitimado pela sanha criminosa de soldados das milícias e do governo, em embates no meio da rua a qualquer hora. Zwick centra a atenção numa família e num pai desesperado para reunir os seus. Essa é a linha que costura o filme de fora a fora e fica ainda mais clara quando passa a se tornar uma obsessão recuperar um filho pequeno das mãos de assassinos treinados.
Por outro lado, é uma aventura de corrida ao tesouro (um diamante valioso que está enterrado nas minas), há trechos de romance, movimentos de guerra e um contorno de filme humanitário e de denúncia. As pontas do filme de Zwick vão se encontrar em algum momento e não me parece que ele encontrou a melhor maneira de amarrar todas as pontas soltas.
Vamos ao enredo. Um pescador de uma comunidade africana, Solomon (vivido de forma brilhante por Djimon Hounson), sonha que seu filho mais velho torne-se doutor e o obriga a estudar. Ele vive também com a mulher e duas filhas pequenas. Um grupo de assassinos auto-denominados M.U.R seqüestram Solomon para trabalhar nas minas de diamante, numa das cenas mais empolgantes do filme - sua família consegue escapar. Uma vez nas minas, Solomon encontra um diamante raro que pode ser a senha para melhorar a sua vida e reaver sua família.
No meio do caminho, aparece o personagem Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um esperto contrabandista de armas e peça importante no comércio internacional de diamantes. Quando descobre que Solomon escondeu uma pedra rara, vê aí a oportunidade de mudar de vida e abandonar o continente.
Se junta à dupla a jornalista que persegue grandes histórias, Maddy Bowen (vivida por Jennifer Connelly). Ela vai ajudar Danny Archer em troca de valiosas informações para sua reportagem.
Embora Hounson seja o grande responsável pela intensidade e magnetismo deste filme (sua luta final nas minas é o ponto alto de uma construção irretocável), não há como negar o trabalho de alto nível que nos apresenta DiCaprio. Algumas cenas suas são fabulosas. Connely, sempre bonitinha, nem de longe acompanha o alto nível da dupla.
O filme vai perdendo força no trecho final, porque força a barra por um final feliz e redentor. Mas mesmo um final que não atende às expectativas não consegue estragar o conjunto. Não se pode deixar de dar o mérito a Zwick por trazer à tona de forma tão clara um tema espinhoso e vergonhoso (na linha de outros bons filmes que tem a África como tema). É um filme acima da média, com personagens bem desenhados, uma história bem contada, e cenas memoráveis.

Título Original: Blood Diamond/ Direção de Edward Zwick/ Roteiro: Charles Levitt, baseado em estória de Charles Levitt e C. Gaby Mitchell/ Elenco: Djimon Hounson, Leonardo DiCaprio e Jennifer Connelly.

Estréias 2/2

A Conquista da Honra, de Clint Eastwood.
À Procura da Felicidade, de Gabriele Muccino.
As Aventuras de Azur e Asmar, de Michel Ocelot.
Brichos, de Paulo Munhoz.
Dogão, Amigo Pra Cachorro, de Frank Passingham, Jean Duval e Dave Borthwick
Meu Irmão Quer Se Matar, de Lone Scherfig.
O Último Rei da Escócia, de Kevin Macdonald.
Rocky Balboa, de Sylvester Stallone.

Quero ver A Conquista da Honra, À Procura da Felicidade, O Último Rei da Escócia e Rocky Balboa.

Nos cinemas de Salvador, em 2 de fevereiro.