Friday, March 16, 2007

Os Infiltrados

Gostei bem menos de "Os Infiltrados", de Martin Scorsese, do que achei que iria gostar. Ainda assim é um dos melhores filmes que já vi este ano. Vamos por parte.
Scorsese é um artesão do cinema como poucos. É um cara apaixonado pela sétima arte e esse amor aparece no cuidado da sua produção, nos detalhes, nas referências que faz ao cinema de outros autores e à sua própria obra.
"Os Infiltrados" está coberto de referências, ou melhor, tem mil referências infiltradas. A sensação de já ter visto uma seqüência, uma cena, um movimento de câmera, ao contrário de muitos outros filmes, é feito muito de propósito para homenagear, citar e piscar o olho para outras obras.
O filme é uma refilmagem do chinês "Infernal Affairs". Mas, não se engane, é Scorsese genuíno, em cada fotograma (e tão visceral quanto ótimos filmes como "Cassino" e "Os Bons Companheiros").
O longa conta a história da tentativa da polícia de Boston para prender Frank Costello, um poderoso chefe do crime naquela cidade interpretado por Jack Nicholson. Para tanto, a polícia infiltra o agente Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) na quadrilha de Costello. O chefe do crime também tem o seu agente infiltrado na polícia, é Colin Sullivan, papel de Matt Damon.
Pode-se dizer que a trama tem seus três atos, com a apresentação dos personagens e apresentação do conflito; num segundo momento se dá a perseguição no estilo gato e rato, com lances inteligentes e corte frenético, sem que com isso se perca a qualidade dos diálogos (que são ótimos); e por fim chagamos à conclusão que quase pode ser dividida em conclusão propriamente dita e epílogo.
Toda a parte final é a menos interessante (ou frustrante?) do filme. Conforme as coisas foram se resolvendo menos satisfeito eu fiquei com as escolhas de Scorsese para a sua história. Não é uma decepção completa, mas não creio que o final esteja digno do restante do filme. Não gosto especialmente como as pessoas vão morrendo no final, uma atrás da outra.
Os jovens atores Damon e DiCaprio estão ótimos e são os grandes responsáveis caso o espectador termine a sessão tendo roído todas as unhas. O drama e a tensão são crescentes e seguram o espectador mais desatento na cadeira. Nicholson é ele mesmo, para variar, mais é delicioso ver o seu poderoso chefão, cruel, rude e sarcástico.
Mark Wahlberg, que faz um dos chefes de DiCaprio, concorreu ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante deste ano pelo papel, mas sua participação é pequena - embora fundamental - na trama. O elenco é muito bom, o principal e o secundário.
No filme, Scorsese parece defender a tese de que as organizações estão seriamente infectadas e de difícil recuperação. E que o mundo do crime e o mundo da lei se relacionam (e se contaminam) mais do que supõe a nossa vã filosofia.
Para além disso, o que vale é que ele nos entrega um thriller inteligente e veloz, com personalidade e ótimas interpretações (em parte do filme, DiCaprio revive Robert De Niro, incrível). Um filme acima da média, mesmo considerando o universo do próprio Scorsese.
Considerando muitos dos filmes que estão sendo feitos hoje, "Os Infiltrados" está muito acima. Covardia comparar.

Título original: The Departed/ Direção: Martin Scorsese/ Roteiro: William Monahan, baseado em roteiro de Siu Fai Mak e Felix Chong/ Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Alec Baldwin, Martin Sheen.

Nota: 8/10

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

O duelo anônimo entre Di Caprio e Matt Damon deixa o filme excitante. na minha opinião os dois atores têm crescido muito em suas atuações, sem mencionar os outros detalhes é claro!

7:32 AM  

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