Thursday, August 16, 2007

O Primo Basílio

Fui com o pé atrás ver "O Primo Basílio", adaptação em filme feita por Daniel Filho do romance de Eça de Queiroz. O pé atrás é justificado, este é um dos melhores romances que li na vida, e que sempre me faz pensar em Eça como um autor tão importante quanto Machado de Assis, que adoro.
O trailer não me empolgava, e menos ainda a composição física de Glória Pires, enfeiada e envelhecida de propósito para o longa. Mas não havia como resistir: como se não bastasse se tratar de um romance tão especial, ainda tinha a Débora Falabella que eu gosto sempre, em qualquer papel.
O filme tem como trunfo maior justamente a atuação de Débora, e seu pega-pra-capar com a empregada chantagista, a feia Glória Pires, que, aliás, está muito bem, no tom certo.
Chama a atenção o cuidado da direção de arte em recompor figurinos, objetos e cenários tal como eram as coisas no fim dos anos 50 quando se passa a trama.
O livro é um painel relativamente complexo que centra foco na alta sociedade portuguesa da época de Eça, século XIX. No filme, Daniel Filho joga na fogueira tudo que não se refira ao romance proibido e à chantagem de Juliana.
O resultado é que o filme é uma versão recortada da história original, mas isso não quer dizer que seja ruim. Como disse o próprio Daniel Filho em entrevistas, o livro é base, mas não é tudo. Ele foi beber em outro grande escritor que conhece bem, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Não acho que fez mal. Quem procurar, acha Nelson Rodrigues em "O Primo Basílio", e mais ainda a versão de Nelson Rodrigues feita pelo próprio Daniel Filho com a telessérie "A Vida Como Ela É", exibida anos atrás na TV Globo.
Em "O Primo Basílio", a história começa no elegante Teatro Municipal de São Paulo, e não perde tempo para entrar na ação propriamente dita. A casada e correta Luísa (Débora Falabela) reencontra um amor antigo, na figura do primo, que é o Fábio Assunção no papel de Basílio.
Ele inicia imediatamente uma investida que não demora em dar resultado, quando o marido engenheiro de Luísa, vivido por Reinaldo Gianechini, viaja à Brasília, para trabalhar na construção da então nova capital.
Luísa se entrega à infidelidade em cenas de luxúria num apartamento apelidado de paraíso, apesar do ambiente decadente. A troca de juras de amor feita em cartões e cartas vai parar nas mãos da esperta empregada Juliana (Pires). Dá-se o drama.
De posse da prova de pulada de cerca da patroa, Juliana pede uma fortuna para ficar quieta. Sem ter como pagar o dinheiro, a patroa passa ao papel de empregada, lavando, passando e limpando no lugar da outra.
É bom ver o Fábio Assunção cínico e canalha. Como é bom ver o sério e correto Gianechini apaixonado e disposto até a perdoar. Achei apenas que Simone Spoladore, em geral boa atriz, estava perdida no papel da amiga concupiscente. Débora segura bem a onda e mostra mais uma vez que pode levar para o alto a qualidade de uma obra. De qualquer uma, aliás.

Título Original: Primo Basílio/ Direção: Daniel Filho/ Roteiro: Euclydes Marinho, com colaboração de Rafael Dragaud, baseado em adaptação de Daniel Filho e Euclydes Marinho de romance de Eça de Queiroz/ Elenco: Débora Falabella, Fábio Assunção, Glória Pires, Reynaldo Gianecchini, Guilherme Fontes, Simone Spoladore.

Nota: 6/10.

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