Thursday, May 17, 2007

Ó Pai Ó

Não foi tudo no filme "Ó Pai Ó", de Monique Gardenberg, que eu gostei, mas confesso que sai do cinema iluminado e feliz como acontece com as melhores experiências. Acho que o que mais prejudicou o resultado é que a diretora não quis optar por um caminho específico e resolveu abraçar três formatos que às vezes parecem brigar entre si: o musical, a comédia de situações e a tragédia.
Por predominância da música, arrisco dizer que é um musical a partir de um amontoado de situações que vão desenhando o desfecho trágico. A rigor não tem uma história, são várias situações envolvendo os personagens do cortiço encravado no Pelourinho.
A seu favor, pode-se dizer que é um dos filmes mais divertidos em cartaz nos últimos tempos. O elenco, do Bando de Teatro Olodum, de Márcio Meireles, repete a ótima atuação característica do grupo - embora o tom exagerado do teatro seja um problema em algumas cenas, que mereciam uma atuação menos efusiva.
Lázaro Ramos está à vontade e é um dos grandes responsáveis pela graça do filme. Wagner Moura não está mal. A cena dos dois brigando por causa do pagamento dos carros de cafezinho é antológica. Lázaro brilha, Wagner segura bem a onda.
Dira Paes está ótima pra variar. Seu personagem ajuda a dar refresco e a pontuar a diferença em relação aos personagens do Pelô. Emanuelle Araújo, que nunca foi tão boa atriz, está no tom certo e deliciosa como a baiana sensual. Sua brejeirice é digna de uma Sônia Braga jovem de "Dona Flor", ainda que um pouco mais espivitada.
Acho que entre as coisas menos legais do filme está os trechos do Carnaval com trio. São dois filmes quase. Toda a movimentação no Pelourinho evoca uma Bahia mais tradicional, de tipos malandros e sensualidade latente. A realidade dos trios e blocos de Carnaval aponta para uma outra Bahia, do negócio, do Axé, do turismo sexual.
Não sei se sem querer ou não, Monique mostra duas Bahias que não existem juntas. Uma remete aos escritos de Jorge Amado e às canções nostálgicas de Caetano e Gil. A outra é a Bahia do business, dos milionários cantores de trio e donos de bloco.
É um filme irregular que emociona em muitos momentos. Tem cenas que parecem fora de lugar e por um bom tempo nada acontece. Mas sobretudo - e apesar de tudo - é um filme divertido e acolhedor.

Título Original: Ó Paí, Ó/ Direção: Monique Gardenberg/ Roteiro: Monique Gardenberg, baseado na peça teatral de Márcio Meirelles/ Elenco: Lázaro Ramos, Stênio Garcia, Wagner Moura, Luciana Souza, Dira Paes, Érico Brás, Emanuelle Araújo.

Nota 7/10.

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