Friday, March 30, 2007

Scoop - O Grande Furo

Me diverti demais ontem assistindo a "Scoop - O Grande Furo", novo filme do Woody Allen. Curioso que muitos críticos adoram falar que os filmes de Allen esgotaram a fórmula e repetem as mesmas piadas. A exceção foi feita a Match Point - um drama - recebido com excepcional entusiasmo. Sobre Scoop choveu porrada.
O filme é tão divertido quanto qualquer outro do cineasta e com os toques geniais de sempre. É um filme que mistura suspense, comédia e romance que chega a ser covardia comparar com qualquer outro suspense, comédia ou romance que vem sendo feito. Dificilmente um cineasta é tão bom quanto Allen fazendo a quantidade de filmes que ele faz. Enquanto os críticos batem, Allen tira ouro do nariz.
Na história, uma estudante de jornalismo (Scarlett Johansson), durante um número de mágica, recebe a informação de um morto (Ian Mc Shane) de que um rico herdeiro londrino (Hugh Jackman) é o procurado serial killer que trucida mulheres e deixa no local do crime uma carta de tarô.
Disposta a investigar o que pode ser um grande furo de reportagem (o "scoop" do título), a aspirante a jornalista conta com a ajuda do mágico (Allen), que se faz passar por seu pai. O problema é que quanto mais investiga o milionário e bonitão suspeito, mas a estudante se envolve e se apaixona.
O Scoop de Allen é uma referência forte a Match Point, mas também a inúmeros filmes do diretor. Fala-se em "Édipo Arrasado", episódio de "Contos de Nova York", por causa dos números de mágica. É muito bom ver o diretor voltando a atuar. Allen está engraçadíssimo como um mágico atrapalhado e falastrão.
Para variar, os diálogos são o ponto forte de um filme que tem uma trama incrivelmente bem costurada. Scarlett Johansson está linda e excelente no papel. O avesso do furacão sexy de Match Point, mas ainda assim extremamente cativante como uma estudante de jornalismo.
O terceiro vértice do elenco principal, Hugh Jackman, não está mal. O ator Ian Mc Shane, que faz o jornalista morto que aparece para Johansson com o furo de reportagem, está ótimo.
Uma das coisas mais bacanas é a Barca dos Mortos, referência à mitologia grega, e tem papel central na história para apresentar o drama e abrir e fechar o filme.
A cena final, piada final, sobre a maneira de dirigir dos londrinos, é ótima. Saí do filme rindo, assim como muita gente no cinema, e sempre que lembro dá vontade de rir de novo. Filme bom eu acho que se deveria medir assim: ele termina e a sensação boa continua por muito tempo ainda.

Título original: Scoop/ Direção e roteiro: Woody Allen/ Elenco: Scarlett Johansson, Hugh Jackman, Woody Allen.

Nota: 8/10.

Tuesday, March 27, 2007

Fora de Rumo

Tinha pensado que ia conseguir manter minha promessa de ver filmes apenas no fim de semana. Não vivo disso, tenho trabalho e outros compromissos para dar conta. Se não organizar minha vida, fica uma bagunça ainda maior do que já é. Descobri que assim como acontece com o café, não consigo viver sem filmes.
Eu não era assim. Me tornei um viciado completo. A gente sabe que o cara tá viciado quando não se preocupa com o tempo e a qualidade do produto. O importante é estar em contato repetido, constante, diário com a droga. Acho que é por isso que tenho o meu estoque em casa. Sabe aqueles caras que plantam maconha num vaso de plantas, no apartamento?
Eu só vivo em paz porque sei que a qualquer hora posso pegar na estante um "Celebridades", um "Magnum 44", um "De Olhos Bem Fechados" e me entregar ao vício. Isso a qualquer hora, qualquer dia.
Ontem me vi numa situação dessas. Já me preparando para dormir, a casa em silêncio, não consegui me segurar: saquei "Fora de Rumo" (Derailed) e vi pela segunda vez. O filme é um suspense com um trio de bons atores na linha de frente: Clive Owen, Vincent Cassel e Jennifer Aniston.
Um publicitário casado (Owen) conhece uma linda executiva (Aniston), também casada, no trajeto para o trabalho. Não demora e iniciam um flerte que ameaça se transformar em um tórrido romance. Na hora de consumar a coisa, em um motel, a dupla é supreendida por um bandidão (Cassel) que espanca ele e abusa dela. A coisa não pára por aí. O casal será perseguido porque o bandido quer uma alta quantia em dinheiro.
O filme poderia ser melhor se não entregasse o ouro rápido ao espectador. Do meio para o fim a gente descobre que tudo foi um golpe (não dá pra dar detalhes senão estraga pra quem não viu). Mas esse tipo de filme ganha mais quando a armação se revela nos minutos finais. Vide o bom exemplo do recente "O Ilusionista" (e até mesmo o mediano "Caos", para ficar em exemplos bem recentes).
Apesar de achar que o filme é bem menos legal do que teria condições de ser, tem coisas ali que gosto bastante. O principal de tudo é o trio de atores principais. Gosto dos três e acho que é a primeira vez que eles dividem um set.
Meu preferido é Vicente Cassel, não por acaso, o melhor desempenho dos três neste longa. Mas também gosto muito de Clive Owen que vem fazendo uma quantidade e variedade incrível de bons trabalhos.
E gosto bastante de Jennifer Aniston não porque ela seja bonita ou sexy (isso só acrescenta a ela), mas porque há um jeito dela de atuar que me interessa. Ela, sem ser uma grande atriz, se adapta sempre bem aos papéis que faz. Há sempre uma graça, uma doçura e um certo cinismo nos seus papéis que me agradam muito. E com este suspense, ela mostra que pode ir além das comédias românticas que a consagraram.

Título Original: Derailed/ Direção: Mikael Hafström/ Roteiro: Stuart Beattie, baseado em livro de James Siegel/ Elenco: Clive Owen, Vincent Cassel, Jennifer Aniston.

Nota: 6/10.

Monday, March 26, 2007

Serpentes a bordo

"Serpentes a bordo", com Samuel L. Jackson, promete um show de horror com cobras mortais e cumpre exatamente isso. O show é beneficiado pela tecnologia. Nenhuma cobra faria o que fazem as do filme, que parecem ser dirigidas para agir daquele jeito. De uma certa maneira até que são mesmo dirigidas, da mesma forma como acontece com os personagens dos filmes de animação.
As cenas de ataque dos bichos aos tripulantes de um avião são bem feitas e tal, mas a sensação é de que não podem mesmo ser reais. Por incrível que pareça, as cobras se comportam de tal forma que não dão medo ou repulsa, mas soam apenas artificiais.
Os ataques apresentam uma situação mais de curiosidade que propriamente de terror. Algumas cenas - por esquisito que isso pareça - provocam mais riso que susto.
A história é mera desculpa para os ataques que veremos dentro da aeronave. O filme tem muito menos graça que a maioria dos filmes B em que parece se basear. Quer ser irônico e engraçadinho, mas provoca mais bocejos que o que se deveria esperar.

Título original: Snakes on a Plane/ Direção: David R. Ellis/ Roteiro: John Heffernan e Sebastian Gutierrez, baseado em estória de John Heffernan e David Dalessandro/ Elenco: Samuel L. Jackson, Nathan Philips, Julianna Margulies.

Nota 3/10.

David Letterman

griAssisti ontem pela primeira vez ao programa "The Late Show with David Letterman", legandado, na TV. Era também a primeira vez que via na TV uma entrevista com Angelina Jolie, Robert De Niro e Matt Damon. Caramba, achei a coisa toda de uma frieza fúnebre. Os entrevistados ficam durões lá na cadeira, falam como robôs, como se estivessem fazendo aquilo lá por imposição contratual e respondem perguntas como se estivessem no piloto automático. Damon era o menos burocrático de todos nas respostas e na própria postura do corpo. Parecia menos rijo, levemente mais à vontade. O entrevistador é simpático, mas trata de maneira formal os entrevistados- pasmen, mesmo quando brinca! O assunto dominante, claro, foi o lançamento do novo filme de De Niro, "O Bom Pastor", mas foram abordados assuntos diversos em pouco tempo. Um exemplo foi como os atores lidam com a mídia de fofoca e as revistas dedicadas às celebridades. Outro assunto foi como os atores escolhem seus trabalhos. E até a vida pessoal encontrou assento: "Angelina, como vai a sua mãe? Foi noticiado que ela estava com câncer..." Os convidados foram tratados como as super celebridades que são, mas tudo feito sem puxa saquismo e babação - coisa muito comum em terras brasileiras. Quem está acostumado com entrevistas mais quentes e próximas, estranha tanto gelo.

Tuesday, March 20, 2007

Xeque-Mate

Ok, "Xeque-Mate" tem seus pontos fortes, embora seja pretensioso além da conta ao se mostrar como um entretenimento de complexidade quando, muitas vezes, o longa é apenas confuso. O filme tem um início arrastado e enrolado até chegar ao ponto onde a trama começa a andar: o momento em que o personagem de Josh Hartnett aparece.
Ele é confundido com um amigo e, em seu lugar, deve se submeter a dois poderosos chefes do crime que se odeiam, o Chefe (Morgan Freeman) e o Rabino (Ben Kingsley). Bruce Willis é um assassino de aluguel frio e metódico contratado para limpar a sujeira de um lado e de outro. Há ainda uma sensual vizinha, Lucy Liu, que vai ajudar o personagem de Hartnett, mas pode ser vítima nas mãos do seus inimigos.
O ritmo da narrativa é rápido, os diálogos são velozes e bem escritos. Pululam citações de filmes e piadinhas. Há um bom aproveitamento e exploração de flashbacks que ajudam a explicar a trama e as motivações dos personagens. Há inúmeras reviravoltas que vão desenhando o grande segredo do filme - só revelado nos instantes finais, claro. Apesar do clima de humor constante se revezando com as cenas violentas, o filme não se decide por uma coisa nem por outra.
Os chefes do crime vividos por Freeman e Kingsley, apesar da sensação de piloto automático, ganham contorno tridimensional graças à experiência da dupla.
Hartnett, repetindo a parceria com o diretor Paul McGuigan (eles fizeram "Paixão à Queima Roupa"), continua sendo um garoto com pouca expressão dramática. Lucy Liu, que anda fazendo um filme atrás do outro, para variar, está linda e muito bem, obrigado. Willis é willis, não decepciona, mas também não oferece nada demais. Aqui parece brincar com os tipos que já fez ao longo da carreira.

Título original: Lucky Number Slevin/ Direção: Paul McGuigan/ Roteiro: Jason Smilovic/ Elenco: Josh Hartnett, Bruce Willis, Lucy Liu, Morgan Freeman e Ben Kingsley.

Nota: 6/10.

Dizem por aí...

O filme estrelado por Jennifer Aniston, Shirley MacLaine, Kevin Costner e Mark Ruffalo não é dos melhores do gênero mas tem o mérito de se basear em uma idéia interessante.
A idéia aproveita o filme "A Primeira Noite de Um Homem" e conta o que seria a vida das pessoas que inspiraram a história. Jennifer Aniston é Sara, noiva de Jeff (Rufalo), que aceita o pedido de casamento do noivo mesmo com uma imensa insegurança sobre se deve mesmo casar.
Nisso, ela viaja para a casa dos pais para o casamento de sua irmã mais nova (papel de Mena Suvari). Lá, Sara descobre que sua mãe e sua avó (MacLaine) provavelmente são as pessoas que inspiraram o roteiro do clássico com Dustin Hoffman, se envolvendo com o mesmo homem.
As coisas pioram quando ela conhece o milionário Beau Burroughs (Kevin Costner) que pode ou não ser o seu verdadeiro pai.
No fim, é uma comédia romântica sem tanta graça como outras coisas bem mais interessantes que a Aniston vinha fazendo ("Separados pelo Casamento", "Quero Ficar com Poly").
Um bom motivo para ver o filme se chama Shirley MacLaine, a atriz está em ótima forma e dando banho em todo o elenco jovem.

Título Original: Rumor Has It/ Direção: Rob Reiner/ Roteiro: Ted Griffin/ Jennifer Aniston, Kevin Costner, Shirley MacLaine, Mark Ruffalo eMena Suvari.

Nota: 5/10.

Monday, March 19, 2007

Beckinsale

Enchi a cara de cachaça a tarde toda de ontem, com a visita de meu amigo Cláudio Alexandre. São alguns meses sem se ver e, pior que isso, já alguns anos sem o contato constante de outros tempos. Conheço esse cabra há mais de 20 anos e toda vez que a gente se encontra parece que não houve intervalo tal é a nossa proximidade. Claro que uma tarde inteira para falar de filmes, mulheres, trabalho e a miséria do mundo é muito pouco. Nos prometemos outros momentos, outras cachaças.

Graças a ele, agora eu tenho entre os meus DVDs o filme "Underworld - Anjos da Noite". Um filme que não despertou interesse da maioria das pessoas que eu conheço - incluindo o próprio Cláudio. Mas eu, por uma inexplicável razão, adoro este longa que reconheço ser francamente comercial. Tem uma história mirabolante de uma guerra entre lobisomens e vampiros, tem todo um visual high tech e soturno, há uma aproximação do ambiente dos quadrinhos, há uma referência descarada ao filme "Matrix". Por fim, tem a presença de Kate Beckinsale. E quando eu penso em Kate, entendo porque sou um solitário defensor deste longa que mistura terror e ação, com pitadas de romance. É que o coração tem razões que a própria razão desconhece.

Quem viu a menina no visual negro tão colado ao corpo quanto possível, deve saber do que estou falando.

Friday, March 16, 2007

"Gosto de coisas não usuais, não comuns e muito pessoais. Não sou fã do cinema americano atual, que tem essa necessidade de explicar tudo o que acontece o tempo inteiro. Gosto de filmes que deixam perguntas sem respostas."

Sofia Coppola, diretora do filme "Maria Antonieta" estrelado por kirsten dunst. Diretora do excelente "Encontros e Desencontros", com Scarlett Johansson e Bill Murray. Filha do cineasta Francis Ford Coppola.

Virgem aos 40 anos

De vez em quando eu me dou a chance de ver filmes sem noção pelo prazer de rir e só. Foi o caso deste "Virgem aos 40 anos" que é engraçadinho e tal mas não está entre as obras duráveis.
O grande mérito é dar a chance ao comediante Steve Carell (que aparece em "Todo Poderoso" ao lado de Jim Carrey) mostrar que tem talento para fazer rir. E ele mostra que tem e muito. Mas o filme não passa de um amontoado de situações de sitcom umas ligadas mecanicamente às outras e um pedacinho de enredo para conduzir a trama.
Esse enredo é o seguinte. Andy (Carell) é um cara de 40 anos que os amigos do trabalho descobrem que ainda é virgem. Todos se unem para fazê-lo perder a virgindade, e se sucedem diversas situações ridículas, onde o próprio Andy se dá mal. Durante as tentativas de perder a virgindade, ele se se envolve num romance com a vendedora da loja em frente à sua, mas não consegue falar do seu problema.
Bobo e sem muita liga, o filme vai se arrastando pela sucessão de piadas. Ok, Carell é um cara engraçado. Mas talvez o filme ganhasse mais se tivesse uma história e fosse além da bobagem.

Título original: The 40 Year-Old Virgin/ Direção: Judd Apatow/ Roteiro: Steve Carell e Judd Apatow/ Elenco: Steve Carrell, Paul Rudd, Romany Malco.

Nota: 5.

Soldado Anônimo

Falamos de um filme de guerra e agora temos outro. "Soldado Anônimo" de sam Mendes (de "Beleza Americana") nada tem a ver com a proposta de John Woo em "Códigos de Guerra", objeto do comentário abaixo. Este se leva a sério demais e produz um filme arrastado e sem brilho. Aquele é cheio de gracinha, embora seja também arrastado pela própria temática - o tédio, a espera.
Dizer que "Soldado Anônimo" tem como tema o tédio é meia-verdade. O longa mostra um grupo de soldados que nada fazem de especial em mais de duzendos dias de espera para participar do conflito no Golfo, na época da invasão do Kuait pelo Iraque do então ditador Saddam Hussein.
Somos conduzidos para acompanhar a trajetória deste grupo pelas mãos do soldado Swofford (Jake Gyllenhaal) que diverte desde sua chegada ao exército, suas saudades da sexy namorada e sua dificuldade de lidar com a espera para entrar na guerra. Há momentos mais divertidos que outros e embora o contexto seja o do conflito, o que Mendes foca é o dia-a-dia dos soldados no deserto, o calor abrasante, o treinamento ininterrupto e poucos momentos em contato com o combate propriamente dito.
Por isso sobram especulações sobre o que fazem as namoradas e esposas que ficaram para trás. E o conflito dentro do grupo, a partir da difícil espera, se instala. Gyllenhaal está muito bem, quieto e companheiro, transmite toda sua ansiosidade e desejo de acabar logo com aquilo e voltar para casa. Há os diferentes tipos de soldados e um sargento durão (Jame Foxx). Pouca coisa muda a rotina da equipe como uma entrevista para TV americana, quando o filme toma um tom de documentário com os soldados falando de sua rotina.
Piadinhas e referência ao sexo são uma constante, mas aparecem apenas para reforçar sua ausência e a falta que faz aos heróis. Mendes mostra a chateação por que passa a equipe bem como a falta de um motivo real para todos estarem ali uma vez que o aparato bélico americano dá conta do recado sem que atiradores de elite precisem mostrar o resultado de seu rigoroso treinamento.
Mendes desvia de focar motivações políticas ou o sentido da guerra. As tropas que aguardam não escapam do perigo representado pelo próprio arsenal dos aliados. É um filme interessante pelo recorte, embora soe ao espectador que lhe falta algo. A guerra começa e termina sem que os soldados mostrados durante todo o tempo tenham podido disparar suas armas. É tudo muito vazio como o imenso deserto.

Título original: Jarhead/ Direção: Sam Mendes/ Roteiro: William Broyles Jr., baseado em livro de Anthony Swofford/ Elenco: Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard, Jamie Foxx.

Nota: 6.

Códigos de Guerra

Tenho visto muito mais filmes que minha capacidade ou paciência para comentar, o que é um erro. Queria, mesmo em se tratando de bombas, falar algo sobre todos os filmes que vejo. Se vale a pena perder duas horas com um longa-metragem, para algum coisa aquela experiência tem que servir.

*

Pois então. Um desses filmes que não me empolgaram muito chama-se "Códigos de Guerra", que parte de uma situação interessante, tem um diretor conhecido por trás (John Woo, de "O Pagamento") e dois bons atores (Nicolas Cage e Christian Slater) no elenco de frente.
Mas o resultado não é bom. Há uma interessante apresentação de um pedaço da 2ª Guerra Mundial, quando os EUA, cansados de terem seus códigos de guerra decifrados pelos então inimigos japoneses, resolvem utilizar índios Navajo.
O estratagema dá certo, mais os navajos precisam ser protegidos a qualquer custo. Para a missão são escalados os sargentos Joe Enders (Cage) e Peter Henderson (Slater). Segue-se as cenas tradicionais de batalhas e soldados submetidos ao perigos de bombas e balas vindas de todas as direções. As ordens implícitas são para impedir os navajos de caírem em mãos inimigas, mesmo que tenham que ser sacrificados.
Quem é amante de filmes de guerra pode se interessar muito pela reconstituição de cenários do pacífico, demonstração de coragem e o festival de matança oferecida por John Woo. Quem tem maior interesse pelo cinema e sua narrativa, não terá muitos atrativos. O drama em si não é explorado de forma a segurar o espectador. As atuações, salvo um ou outro momento, não compensam.

Título Original: Windtalkers/ Direção: John Woo/ Roteiro: John Rice e Joe Batteer/ Elenco: Nicolas Cage, Christian Slater, Frances O'Connor, Adam Beach.

Nota: 5/10.

Os Infiltrados

Gostei bem menos de "Os Infiltrados", de Martin Scorsese, do que achei que iria gostar. Ainda assim é um dos melhores filmes que já vi este ano. Vamos por parte.
Scorsese é um artesão do cinema como poucos. É um cara apaixonado pela sétima arte e esse amor aparece no cuidado da sua produção, nos detalhes, nas referências que faz ao cinema de outros autores e à sua própria obra.
"Os Infiltrados" está coberto de referências, ou melhor, tem mil referências infiltradas. A sensação de já ter visto uma seqüência, uma cena, um movimento de câmera, ao contrário de muitos outros filmes, é feito muito de propósito para homenagear, citar e piscar o olho para outras obras.
O filme é uma refilmagem do chinês "Infernal Affairs". Mas, não se engane, é Scorsese genuíno, em cada fotograma (e tão visceral quanto ótimos filmes como "Cassino" e "Os Bons Companheiros").
O longa conta a história da tentativa da polícia de Boston para prender Frank Costello, um poderoso chefe do crime naquela cidade interpretado por Jack Nicholson. Para tanto, a polícia infiltra o agente Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) na quadrilha de Costello. O chefe do crime também tem o seu agente infiltrado na polícia, é Colin Sullivan, papel de Matt Damon.
Pode-se dizer que a trama tem seus três atos, com a apresentação dos personagens e apresentação do conflito; num segundo momento se dá a perseguição no estilo gato e rato, com lances inteligentes e corte frenético, sem que com isso se perca a qualidade dos diálogos (que são ótimos); e por fim chagamos à conclusão que quase pode ser dividida em conclusão propriamente dita e epílogo.
Toda a parte final é a menos interessante (ou frustrante?) do filme. Conforme as coisas foram se resolvendo menos satisfeito eu fiquei com as escolhas de Scorsese para a sua história. Não é uma decepção completa, mas não creio que o final esteja digno do restante do filme. Não gosto especialmente como as pessoas vão morrendo no final, uma atrás da outra.
Os jovens atores Damon e DiCaprio estão ótimos e são os grandes responsáveis caso o espectador termine a sessão tendo roído todas as unhas. O drama e a tensão são crescentes e seguram o espectador mais desatento na cadeira. Nicholson é ele mesmo, para variar, mais é delicioso ver o seu poderoso chefão, cruel, rude e sarcástico.
Mark Wahlberg, que faz um dos chefes de DiCaprio, concorreu ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante deste ano pelo papel, mas sua participação é pequena - embora fundamental - na trama. O elenco é muito bom, o principal e o secundário.
No filme, Scorsese parece defender a tese de que as organizações estão seriamente infectadas e de difícil recuperação. E que o mundo do crime e o mundo da lei se relacionam (e se contaminam) mais do que supõe a nossa vã filosofia.
Para além disso, o que vale é que ele nos entrega um thriller inteligente e veloz, com personalidade e ótimas interpretações (em parte do filme, DiCaprio revive Robert De Niro, incrível). Um filme acima da média, mesmo considerando o universo do próprio Scorsese.
Considerando muitos dos filmes que estão sendo feitos hoje, "Os Infiltrados" está muito acima. Covardia comparar.

Título original: The Departed/ Direção: Martin Scorsese/ Roteiro: William Monahan, baseado em roteiro de Siu Fai Mak e Felix Chong/ Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Alec Baldwin, Martin Sheen.

Nota: 8/10

Dália Negra

Nem tem tanto tempo assim, eu revi na TV, por acaso, na madrugada, o ótimo "Dublê de Corpo", um dos clássicos de Brian De Palma. Foi pois com ainda alguma excitação que esperava para ver "Dália Negra", o mais novo filme desse que é um dos meus diretores prediletos.
Não gostei de "Dália Negra", embora achasse quase impossível antes de vê-lo. Eu pensava: como posso não gostar de um filme de De Palma, que homenageia o cinema noir (que adoro), com um elenco com nomes como Scarlett Johansson, Hilary Swank e Aaron Eckhart? E ainda por cima uma adaptação da obra de James Ellroy que já havia rendido o excelente "Los Angeles - Cidade Proibida"?
Pois achei a receita difícil de dar errado. Mas deu. Acho que um dos problemas está na escalação do protagonista vivido Josh Hartnett, que não é ator suficiente para segurar um papel desses. Há momentos bons com Hartnett na pele do ex-boxeador e policial que investiga o crime, mas na maior parte fica claro que não é ator suficiente para toda a complexidade e sutileza exigidas no papel.
O filme conta a história de um dos mais famosos crimes da Los Angeles do final dos anos 40, quando uma jovem foi assassinada de maneira brutal. Ela teve o corpo retalhado, seus órgãos retirados e o sangue drenado. Começa uma caçada ao assassino sob responsabilidade de dois policiais jovens e ex-boxeadores Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Bucky Bleichert (Hartnett).
Com o material que tinha nas mãos, parecia difícil fazer um filme sonolento, mas é o que acontece. Há tramas e subtramas que se entrecortam e nem sempre o foco está no assunto central - a investigação do crime - que tem potência para ser vibrante do começo ao fim. Mas não é isso que acontece.
No fim, as coisas melhoram muito com o desenrolar do caso cada vez mais perto. Mas até lá, é preciso paciência. O filme marca duas horas, mas parece ter três ou mais.
Como em todo projeto de De Palma, há sempre compensações que não deixam o caso totalmente perdido. A cena de tiroteio e morte na escadaria é deliciosa e um primor de cinema. Assim como a tão comentada movimentação de câmera num momento crucial quando somos apresentados à vítima de assassinato, à Dália Negra do título.
As atrizes Scarlett Johansson e Hilary Swank estão bem à sua maneira, mas parecem dar menos que o que se poderia esperar. Swank está elegante e fatal em seu papel. Johansson, sempre bela, às vezes parece artificial e deslocada.
O bom ator Aaron Eckhart é dezenas de vezes melhor que seu parceiro Hartnett em cena e consegue transmitir muito da ambigüidade e ar misterioso de seu personagem.
O orçamento alto de U$ 50 milhões aparece especialmente na arte e na reconstituição de época, muito bem feita. Nesse quesito, o filme é uma delícia para os olhos, em cenários, figurinos e fotografia.

Título original: The Black Dahlia/ Direção: Brian De Palma/ Roteiro: Josh Friedman, baseado em livro de James Ellroy/ Elenco: Josh Hartnett, Scarlett Johansson, Aaron Eckhart e Hilary Swank.

Borat

Há quem goste muito e quem não consiga ver nada além de um festival de grosserias, mau gosto e piadas sexistas no filme "Borat". O filme é tratado como a sensação do momento em termos de humor e vem fazendo fortuna em bilheteria, a despeito do seu orçamento de R$ 18 milhões.
Há cenas engraçadas no falso documentário de um suposto repórter do Cazaquistão que viaja aos Estados Unidos para revelar os modos e os costumes dos americanos. Durante a estadia nos States, o repórter vê pela TV a modelo Pamela Anderson, por quem se apaixona. Daí por diante, ele convence seu produtor a mudar o destino das filmagens de Nova Yorque para a Califórnia, onde Pamela está.
Entre a apresentação de sua terra, no início, as filmagens na América, até o final de volta ao Cazaquistão, há todo tipo de bizarrice, piadas incômodas, constrangimento a entrevistados que não sabem que se trata de um falso documentário, um show de horror e escatologia.
Há um certo engenho num roteiro ágil que serve às piadas que se sucedem como em quadros de um humorístico de TV. O formato lembra documentários recentes e virulentos como "Tiros em Columbine" e "Super Size Me". Mas também lembra as turmas do "Pânico na TV" e "Casseta e Planeta".
As piadas são variadas, desde as mais idiotas e físicas (que prevalecem), às mais sutis e elaboradas. As piadas ridicularizam a América o tempo todo, atacando a guerra ao terror, a violência, os costumes, os modos e a gente. Os judeus são um dos alvos preferenciais. Uma constante é o ataque ao bom gosto e ao politicamente correto.
Poderia ser um filme melhor se não se afundasse no ridículo e no exagero e fizesse disso sua matéria prima. É uma produção corajosa porque se arrisca pelo caminho do incômodo e do asco que provoca, supostamente para fazer pensar.
Creio que a sutileza é mais forte que a exposição ao ridículo. Tem quem vibre com cenas de explícito desconforto. Tem quem goste e quem não goste. Um filme testando os limites do desconforto o tempo todo parece aquelas peças de teatro que submetem a platéia a suplícios em nome da arte. No fim soa mais desagradável que revolucionário. Borat não é revolucionário. É desagradável. Só.

Título original: Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan/ Direção: Larry Charles/ Elenco: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian, Luenell.

Thursday, March 15, 2007

De volta

Felizmente, o blog voltou ao normal. Vou retornar os posts logo, logo. Investi energia e paciência para ir montando a coisa aqui do jeito que queria, não dava para jogar o esforço fora. Só vou fazer mais uns testes e pronto.

Friday, March 02, 2007

Estréias 02/03

Dreamgirls - Em Busca de um Sonho, de Bill Condon.
Letra e Música, de Marc Lawrence.
Motoqueiro Fantasma, de Mark Steven Johnson.
Notas Sobre Um Escândalo, de Richard Eyre.

Quero ver Dreamgirls e Notas Sobre Um Escândalo.


Nos cinemas de Salvador, em 02 de março.

Thursday, March 01, 2007

Déjà Vu

Qualquer filme com Dezel Washington eu assisto. Mesmo em se tratando de produções dirigidas por um irritante Tony Scott. E em muitos momentos é irritante assistir "Déjà Vu", longa que está nos cinemas e que repete a parceria entre ator e diretor (antes estiveram juntos em "Maré Vermelha" e "Chamas da Vingança").
É o primeiro filme passado em Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina. A produção é do Jerry Bruckheimer, responsável por um sem número de filmes que fazem fortunas nas bilheterias.
O filme tem seus bons momentos, mas merecia menos pressa e mais clareza de sua proposta. Isso sem falar no aprofundamento de relações entre os personagens, em especial a dupla central, formada pelo agente Doug Carlin (Washington) e a vítima de atentado Claire Kuchever (interpretada por uma belíssima Paula Patton).
A história é a seguinte. Após um atentado a bomba, um agente federal é chamado para investigar o local do crime e localizar os responsáveis o mais rápido possível. Ele contará com a ajuda do FBI que possui um equipamento ultrasecreto que de alguma maneira consegue ver o que ocorreu no passado e até mesmo interferir no curso dos acontecimentos.
Daí não é difícil imaginar que o tal agente, na pele de Washington, fará a tal intervenção no passado para tentar salvar a mocinha e evitar a tragédia. Tudo muito bem se o resultado da história mostrada na tela não fosse tão frágil e inverossímil.
Há bons filmes de viagens no tempo que têm solução simples e se oferecem mais inteiros e coerentes para quem assiste. Não é o caso deste "Déjà Vu". Aliás, é o termo é apropriado no mau sentido, porque o longa consegue ser bem repetitivo em relação a milhares de filmes de ação e perseguição que nos chegam todo ano.
O momento mais interessante do filme de Scott é uma inédita perseguição de carros que se passa em dois tempos (passado e presente). É bem provável que sem um ator tão completo quanto Denzel Washington esse filme morreria na praia. Washington tem o maior mérito pelo prazer de ver o longa até o final.
Ah, tá, e tem a linda e novata Paula Patton que ilumina a telona cada vez que aparece. A câmara namora com ela o tempo todo. O personagem de Washington também e, de lambuja, todos nós. Vale ver ainda o James Caviezel fazendo talvez o primeiro vilão de sua carreira (e se saindo muito bem). E Val Kilmer, em participação pequena, mas bacana.

Título original: Déjà Vu/ Direção: Tony Scott/ Roteiro: Bill Marsilii e Terry Rossio/ Elenco: Denzel Washington, Val Kilmer, Jim Caviezel