Monday, May 21, 2007

Volver

Todas as mulheres deveriam assitir o filme "Volver", de pedro Almodòvar. Todos os filmes do espanhol falam direto às mulheres, mas encantam os homens que tem sensibildade e sabem apreciar as suas saborosas histórias. Sou um fã de Almodòvar há muito tempo. É um dos poucos cineastas de vasta filmografia que eu posso dizer que conheço praticamente todos os filmes, mesmo alguns pré-históricos como "Labirinto de Paixões" e "Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón".
Este "volver" é um filme triste que fala de morte do começo ao fim, mas não consegue ter o peso que se pode supor para o tema. Por incrível que pareça é um filme cheio de vida (e de mistérios). É divertido como é típico de Almodòvar. E é um filme dominado por mulheres do começo ao fim.
O único homem da trama vai morrer nos primeiros minutos de projeção. Este fato será importante para o destino daí para frente do personagem de Penélope Cruz, protagonista do filme. Ela é mãe de uma adolescente e tem um passado marcado por fatos que não conta e que virão à tona com a aparição de sua mãe, que havia morrido em um incêndio com o seu pai. Esse retorno da mãe traz consigo a elucidação de alguns mistérios.
O passado retorna, "volve". O longa traz consigo todos os elementos característicos do diretor, o melodrama, cada vez mais trabalhado e envolvente, a força de um elenco excepcional (a começar por Penelope Cruz, linda e em ótima performance), uma narrativa que apresenta diversas camadas e possibilidades de leitura, as cores marcadas, e os temas recorrentes do diretor, incluindo a fixação na figura materna.
Sair de um filme de Almòdovar do jeito que entrou é cada vez mais difícil. Alguma coisa boa sempre acontece e o filme fica com a gente muito mais tempo que as duas horas de projeção.

Título original: Volver/ Direção e roteiro: Pedro Almodóvar/ Elenco: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas.

Nota: 8/10.

Thursday, May 17, 2007

Ó Pai Ó

Não foi tudo no filme "Ó Pai Ó", de Monique Gardenberg, que eu gostei, mas confesso que sai do cinema iluminado e feliz como acontece com as melhores experiências. Acho que o que mais prejudicou o resultado é que a diretora não quis optar por um caminho específico e resolveu abraçar três formatos que às vezes parecem brigar entre si: o musical, a comédia de situações e a tragédia.
Por predominância da música, arrisco dizer que é um musical a partir de um amontoado de situações que vão desenhando o desfecho trágico. A rigor não tem uma história, são várias situações envolvendo os personagens do cortiço encravado no Pelourinho.
A seu favor, pode-se dizer que é um dos filmes mais divertidos em cartaz nos últimos tempos. O elenco, do Bando de Teatro Olodum, de Márcio Meireles, repete a ótima atuação característica do grupo - embora o tom exagerado do teatro seja um problema em algumas cenas, que mereciam uma atuação menos efusiva.
Lázaro Ramos está à vontade e é um dos grandes responsáveis pela graça do filme. Wagner Moura não está mal. A cena dos dois brigando por causa do pagamento dos carros de cafezinho é antológica. Lázaro brilha, Wagner segura bem a onda.
Dira Paes está ótima pra variar. Seu personagem ajuda a dar refresco e a pontuar a diferença em relação aos personagens do Pelô. Emanuelle Araújo, que nunca foi tão boa atriz, está no tom certo e deliciosa como a baiana sensual. Sua brejeirice é digna de uma Sônia Braga jovem de "Dona Flor", ainda que um pouco mais espivitada.
Acho que entre as coisas menos legais do filme está os trechos do Carnaval com trio. São dois filmes quase. Toda a movimentação no Pelourinho evoca uma Bahia mais tradicional, de tipos malandros e sensualidade latente. A realidade dos trios e blocos de Carnaval aponta para uma outra Bahia, do negócio, do Axé, do turismo sexual.
Não sei se sem querer ou não, Monique mostra duas Bahias que não existem juntas. Uma remete aos escritos de Jorge Amado e às canções nostálgicas de Caetano e Gil. A outra é a Bahia do business, dos milionários cantores de trio e donos de bloco.
É um filme irregular que emociona em muitos momentos. Tem cenas que parecem fora de lugar e por um bom tempo nada acontece. Mas sobretudo - e apesar de tudo - é um filme divertido e acolhedor.

Título Original: Ó Paí, Ó/ Direção: Monique Gardenberg/ Roteiro: Monique Gardenberg, baseado na peça teatral de Márcio Meirelles/ Elenco: Lázaro Ramos, Stênio Garcia, Wagner Moura, Luciana Souza, Dira Paes, Érico Brás, Emanuelle Araújo.

Nota 7/10.