Tuesday, August 28, 2007

A Rainha

O longa "A Rainha", de Stephen Frears me deu mais ou menos aquilo que eu esperava dele. Não dá para morrer de amores, mas gosto bastante de Helen Mirren que está impecável no papel da Rainha Elizabeth II, durante o episódio da morte da princesa Diana.
É um filme que mostra a reação e o comportamento da família real diante da comoção que foi a morte da princesa. Um personagem importante é o do primeiro-ministro Tony Blair, que me pareceu retratado como gente boa demais no filme.
Na trama, Blair tenta convencer a rainha de que deve dar maior importância à morte de Diana. A rainha, bem como toda a família real - a exceção do príncipa Charles -, não gosta da princesa nem se preocupa com a reação emocionada das pessoas.
A rainha quer tratar do fato como um assunto privado e portanto sem necessidade de manifestação dela ou da monarquia. Ela entende que Diana não pertence à família real e não tem direito a honras próprias da nobreza - mesmo sendo ela mãe dos filhos do príncipe Charles, netos da própria rainha.
É claro que todo o país pensa diferente e espera uma manifestação de pesar da nobre família. Por entender rapidamente esse sentimento no povo, Blair age de acordo e ganha a simpatia popular.
A imprensa e os milhares de fãs de Diana passam a atacar a realeza por não demonstrar dor, não valorizar o acontecimento, nem um pronunciamento público é feito. Eles querem que a bandeira do palácio seja erguida até a metade do mastro, em sinal de luto, e que a rainha abandone suas férias e visite o corpo de Diana.
É um filme que mostra a intimidade dos poderosos, trocas de telefonemas entre autoridades, negociações de bastidores, e a relação difícil entre a rainha e o primeiro-ministro. Nesse aspecto é um bom relato da história recente. A rainha Elizabeth II trata Blair com frieza enquanto ele, não obstante, parece admirá-la cada vez mais.
Está clara a contraposição entre a tradição e a modernidade no filme, inclusive com questionamento sobre a necessidade da monarquia nos tempos atuais cuja opulência custa milhões aos cofres britânicos. No fim, a realeza contorna a situação cedendo ao desejo popular.
A rainha viaja a Londres, fala ao país e visita as milhares de flores, cartões e mensagens deixadas para Diana por populares. "Uma demonstração de humildade", diz, político, Blair. "O senhor confunde humildade com humilhação", diz a rainha que faz tudo que faz muito a contragosto.
O filme não deixa de ser um interessante painel moderno sobre o governo britânico ainda que pontual, sobre um momento bem específico. É um filme cheio de sutilezas e mensagem nas entrelinhas. Não entendo, por exemplo, o que simboliza aquele alce lindo que a rainha vê em um de seus passeios e que parece mexer tanto com ela.
O fato é que a morte da "princesa do povo" desestabiliza a paz da rica família real e obriga a rainha à mudar. Em tempos em que se valoriza tanto a vida íntima das celebridades, a postura clean, discreta e protocolar da família real parece fora de lugar. Por outro lado, os afiados diálogos dos nobres não deixa de ser uma série de petardos que o próprio filme lança sobre o descortinamento dos famosos a qualquer custo.
Há inúmeras qualidades no filme de Frears, a maior delas é apresentar uma história sem maniqueísmos e com personagens bastante críveis, bem próximos do que supmos ser a realidade.

Título original: The Queen/ Direção: Stephen Frears/ Roteiro: Peter Morgan/ Elenco: Helen Mirren, Michael Sheen, James Cromwell

Nota: 6/10

Monday, August 20, 2007

Os Simpsons - O Filme

É preciso constatar o óbvio. "Os Simpsons - O Filme" é tal e qual uma versão esticada dos episódios de TV, nada menos. Não significa que não seja muito divertido mesmo assim. A curiosidade matou o gato e me levou ao cinema, mas se soubesse o que sei hoje, esperaria na boa para ver o longa em DVD.
A história da corrosiva família que sacaneia com tudo e todos, em especial o american way of life, com humor negro e muito humor politicamente incorreto, é deliciosa e esbanja criatividade. Hommer é o personagem central da trama que consegue ameaçar o país com as trapalhadas envolvendo um porco de estimação.
Ele causa um acidente ecológico de grandes proporções que obriga o presidente Arnold Schwarzenegger a isolar a cidade de Springfield em uma redoma gigante. A população de Springfield sai à caça de Hommer que consegue fugir com a família para o Alasca.
Logo, ele é obrigado a voltar atrás e, numa série de situações, passa a ter em suas mãos a possibilidade de salvar a cidade da destruição. A família de Hommer, especialmente sua mulher, Marge, tem papel importante na história.
Há subtramas que envolvem todos os membros da família, até o vovô "Abe" tem uma cena no início que sinaliza os terríveis acontecimentos futuros. Bart entra em um processo de conflito com o pai que o faz (Bart) se aproximar do vizinho. Lisa envolve-se na campanha em defesa do Lago Springfield e conhece um rapaz por quem se apaixona. E Maggie é responsável por algumas da cenas mais engraçadas do filme, incluindo a boa sacada da primeira palavra que ela fala no final dos créditos.
Um filme divertido, cheio de ação e, principalmente, que mantém a temperatura e o nível altos até o final.

Título original: The Simpsons Movie/ Direção: David Silverman/ Roteiro: James L. Brooks, Al Jean, David Mirkin, George Meyer, Matt Groening, Ian Maxtone-Graham, Mike Reiss, Mike Scully, Matt Sellman, John Swartzwelder e Jon Vitti, baseado em série de TV criada por Matt Groening

Nota: 6/10.

Thursday, August 16, 2007

O Primo Basílio

Fui com o pé atrás ver "O Primo Basílio", adaptação em filme feita por Daniel Filho do romance de Eça de Queiroz. O pé atrás é justificado, este é um dos melhores romances que li na vida, e que sempre me faz pensar em Eça como um autor tão importante quanto Machado de Assis, que adoro.
O trailer não me empolgava, e menos ainda a composição física de Glória Pires, enfeiada e envelhecida de propósito para o longa. Mas não havia como resistir: como se não bastasse se tratar de um romance tão especial, ainda tinha a Débora Falabella que eu gosto sempre, em qualquer papel.
O filme tem como trunfo maior justamente a atuação de Débora, e seu pega-pra-capar com a empregada chantagista, a feia Glória Pires, que, aliás, está muito bem, no tom certo.
Chama a atenção o cuidado da direção de arte em recompor figurinos, objetos e cenários tal como eram as coisas no fim dos anos 50 quando se passa a trama.
O livro é um painel relativamente complexo que centra foco na alta sociedade portuguesa da época de Eça, século XIX. No filme, Daniel Filho joga na fogueira tudo que não se refira ao romance proibido e à chantagem de Juliana.
O resultado é que o filme é uma versão recortada da história original, mas isso não quer dizer que seja ruim. Como disse o próprio Daniel Filho em entrevistas, o livro é base, mas não é tudo. Ele foi beber em outro grande escritor que conhece bem, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Não acho que fez mal. Quem procurar, acha Nelson Rodrigues em "O Primo Basílio", e mais ainda a versão de Nelson Rodrigues feita pelo próprio Daniel Filho com a telessérie "A Vida Como Ela É", exibida anos atrás na TV Globo.
Em "O Primo Basílio", a história começa no elegante Teatro Municipal de São Paulo, e não perde tempo para entrar na ação propriamente dita. A casada e correta Luísa (Débora Falabela) reencontra um amor antigo, na figura do primo, que é o Fábio Assunção no papel de Basílio.
Ele inicia imediatamente uma investida que não demora em dar resultado, quando o marido engenheiro de Luísa, vivido por Reinaldo Gianechini, viaja à Brasília, para trabalhar na construção da então nova capital.
Luísa se entrega à infidelidade em cenas de luxúria num apartamento apelidado de paraíso, apesar do ambiente decadente. A troca de juras de amor feita em cartões e cartas vai parar nas mãos da esperta empregada Juliana (Pires). Dá-se o drama.
De posse da prova de pulada de cerca da patroa, Juliana pede uma fortuna para ficar quieta. Sem ter como pagar o dinheiro, a patroa passa ao papel de empregada, lavando, passando e limpando no lugar da outra.
É bom ver o Fábio Assunção cínico e canalha. Como é bom ver o sério e correto Gianechini apaixonado e disposto até a perdoar. Achei apenas que Simone Spoladore, em geral boa atriz, estava perdida no papel da amiga concupiscente. Débora segura bem a onda e mostra mais uma vez que pode levar para o alto a qualidade de uma obra. De qualquer uma, aliás.

Título Original: Primo Basílio/ Direção: Daniel Filho/ Roteiro: Euclydes Marinho, com colaboração de Rafael Dragaud, baseado em adaptação de Daniel Filho e Euclydes Marinho de romance de Eça de Queiroz/ Elenco: Débora Falabella, Fábio Assunção, Glória Pires, Reynaldo Gianecchini, Guilherme Fontes, Simone Spoladore.

Nota: 6/10.

Thursday, August 09, 2007

Transformers

Pela primeira vez em muitos anos, quis sair de uma sessão de cinema no meio. "Transformers" não chega a ser uma decepção completa porque eu seria doido se esperasse muita coisa de Michael Bay. Nunca gostei dos seus filmes, mas fiquei um pouco otimista depois de "A Ilha", com Scarlett Johansson e Ewan McGregor, que é divertido e sinalizava que Bay podia ter adquirido cérebro e senso de ridículo.
Meu interesse por "Transformers" começou quando vi, no trailer, aquele robô imenso saindo de dentro da piscina diante daquela garotinha. Depois veio o crítico do Estadão, Luis Carlos Merten, cobrindo o longa de elogios. Fui ver.
Acho que foi uma grana das mais mal gastas em minha vida de cinéfilo. Faço um pequeno aparte para o John Torturo, que faz um oficial americano, e parece rir daquilo tudo sem levar nada a sério. Jon Voight, que no filme é o secretário de defesa, e apesar do talento, não me encheu os olhos.
A sensação Megan Fox é uma lindeza e tal, foi o que me fez resistir bravamente por mais de duas horas no cinema, mas, vamos combinar, atriz mesmo ela ainda não é, passa longe aliás. Acho que só foi contratada para isso mesmo, exibir aquele corpão e aqueles olhos lindos, e impedir que gente como eu saia antes da hora.
A trama é tão imbecil quanto vazia. Perde tempo demais com bobagem, com pormenores que não dizem nada, nada acrescentam à trama. Em um determinado momento, todos os robôs vão a casa do jovem garoto que tem uma peça, um óculos do avó, que pode levar a um cubo cobiçado por heróis e vilões robôs, é o motivo de toda a guerra. Mas o que é aquela confusão ignóbil na hora de buscar esses óculos que esconde o mapa do tal cubo?
O garoto que faz o personagem principal, Shia Labeouf, fala pelos cotovelos, querendo ser engraçado, mas não consegue empolgar. É tão bobo quanto todo o filme. Percebe-se que o filme custou uma fortuna (US$ 147 milhões) com a qual os estúdios se acostumaram a lidar. Mas já sabemos há tempo que dinheiro nenhum salva a platéia de uma roubada quando Michael Bay decide mostra seu lado Spielberg (aliás, um dos produtores do filme).
Por falar nele, eu lamentei por "Guerra dos Mundos", mas aquele longa de Spielberg, com Tom Cruise e Dakota Fanning, é maravilhoso comparado ao bate bate de Michael Bay. No próximo filme dele prometo ser bonzinho e passar bem longe.

Título original: Transformers/ Direção: Michael Bay/ Roteiro: Roberto Orci e Alex Kurtzman, baseado em estória de John Rogers, Alex Kurtzman e Roberto Orci/ Elenco: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Jon Voight, John Turturro.

Nota: 2/10.

Tuesday, July 03, 2007

Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado

O surfista prateado sempre foi um personagem emblemático e fascinante. Ele é o principal responsável por essa continuação de o Quarteto Fantástico ser vários pontos acima em relação ao primeiro filme. Toda vez que o alienígena prateado surge, é interessante.
No geral o filme continua não se levando a sério, o que é uma vantagem. Mas também trata os seus personagens com uma superficialidade irritante. No primeiro longa, os quatros heróis são apenas uma pálida sombra dos seus originais dos quadrinhos. O diretor Tim Story prefere apenas brincar e divertir ao invés de oferecer o algo mais que faz a diferença em filmes como "X-Men", "Homem-Aranha" e "Superman - O Retorno".
Nesta continuação algo de bom acontece em todos os sentidos, começando pela feliz idéia de explorar o drama do surfista e seu mestre, o devorador de mundos, Galactus. Mas também pela volta bem explorada do Doutor Destino, que cria a tensão necessária quando o surfista deixa de ser "a" ameaça.
Pode-se dizer que os heróis estão mais à vontade em seus personagens e continuam as piadinhas, umas ótimas, outras nem tanto. As cenas de ação são boas e compensam a falta delas no primeiro filme. A seqüência batida e rebatida da perseguição do Tocha Humana ao surfista não deixa de encantar, especialmente quando durante esta cena, o surfista nos aparece pela primeira vez - e é um momento lindo.
O final decepciona por inverossímel, e por sem graça também (alguém aí pode dizer previsível que eu também concordo). Pela distração que proporciona, vale o ingresso. Pelo surfista, merece um pouco mais de respeito.

Título original: Fantastic Four: The Rise of the Silver Surfer/ Direção: Tim Story/ Roteiro: Mark Frost, baseado nos personagens criados por Jack Kirby, Stan Lee e Don Payne/ Elenco: Jessica Alba, Ioan Gruffud, Chris Evans.

Nota: 6/10.

Tuesday, June 19, 2007

O Mestre das Armas

Vi ontem "O Mestre das Armas", dito último filme de luta de Jet Li. Pelo trailer parece mais um filmizinho de porrada, já repetido a exaustão. É mais um filme de porrada sim. O enredo não traz novidade e ainda assim o filme é bom, pelo menos são ótimas as cenas de luta, das mais bonitas feitas ultimamente.
O filme tem um miolo bem bom, com uma tragédia daquelas. Seria melhor, se não fosse a lição de moral, a tal "mensagem positiva" que ele se obriga a transmitir. Mas mesmo assim é bom de ver.
Jet Li tem se esforçado para ser mais ator e menos homem de porrada só. Tem se preocupado em escolher os papéis e na minha modesta opinião, não tem ido mal. Este e o último filme dele, "Cão de Briga", são filmes acima da média em relação aos filmes de luta que ele costuma estrelar. Gosto mais do "Cão de Briga", mas também gostei deste "O Mestre das Armas".
Aqui, Li é um grande campeão que toma para si o desafio, ainda menino, de nunca mais ser derrotado depois de uma briga com um outro garoto. Daí se sucedem torneios e mais torneios, Li se torna de fato um grande campeão. O bicho pega quando a arrogância o faz cometer um assassinato. Sua vida se transforma. Ele se distancia de tudo e todos, e vai parar numa aldeia de camponeses. Lá ele conhece uma jovem cega que se apega a ele, e vice-versa. Antes do romance se consumar, ele resolve voltar a sua cidade.
Essa fase final do filme é também a menos interessante, o grande atrativo é uma cena de luta das melhores. Ele resolve lutar para elevar a auto-estima de seu povo humilhado em derrotas sucessivas contra guerreiros ocidentais. Ele sobe ao ringue e arrasa o oponente muito maior que ele. Termina de forma boba e desde a temporada com os camponeses, o filme lembra de alguma forma o "Último Samurai", que tem Tom Cruise e Ken Watanabe.
É um filme curto, que diverte. E li mostra que é um grande astro das artes marciais. Se for mesmo seu último filme no gênero, é uma pena.

Título original: Huo Yuan Jia/ Direção: Ronny Yu/ Roteiro: Chris Chow e Christine To/ Elenco: Jet Li, Shido Nakamura, Betty Sun.

Nota: 6/10.

Monday, May 21, 2007

Volver

Todas as mulheres deveriam assitir o filme "Volver", de pedro Almodòvar. Todos os filmes do espanhol falam direto às mulheres, mas encantam os homens que tem sensibildade e sabem apreciar as suas saborosas histórias. Sou um fã de Almodòvar há muito tempo. É um dos poucos cineastas de vasta filmografia que eu posso dizer que conheço praticamente todos os filmes, mesmo alguns pré-históricos como "Labirinto de Paixões" e "Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón".
Este "volver" é um filme triste que fala de morte do começo ao fim, mas não consegue ter o peso que se pode supor para o tema. Por incrível que pareça é um filme cheio de vida (e de mistérios). É divertido como é típico de Almodòvar. E é um filme dominado por mulheres do começo ao fim.
O único homem da trama vai morrer nos primeiros minutos de projeção. Este fato será importante para o destino daí para frente do personagem de Penélope Cruz, protagonista do filme. Ela é mãe de uma adolescente e tem um passado marcado por fatos que não conta e que virão à tona com a aparição de sua mãe, que havia morrido em um incêndio com o seu pai. Esse retorno da mãe traz consigo a elucidação de alguns mistérios.
O passado retorna, "volve". O longa traz consigo todos os elementos característicos do diretor, o melodrama, cada vez mais trabalhado e envolvente, a força de um elenco excepcional (a começar por Penelope Cruz, linda e em ótima performance), uma narrativa que apresenta diversas camadas e possibilidades de leitura, as cores marcadas, e os temas recorrentes do diretor, incluindo a fixação na figura materna.
Sair de um filme de Almòdovar do jeito que entrou é cada vez mais difícil. Alguma coisa boa sempre acontece e o filme fica com a gente muito mais tempo que as duas horas de projeção.

Título original: Volver/ Direção e roteiro: Pedro Almodóvar/ Elenco: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas.

Nota: 8/10.