A Rainha

É um filme que mostra a reação e o comportamento da família real diante da comoção que foi a morte da princesa. Um personagem importante é o do primeiro-ministro Tony Blair, que me pareceu retratado como gente boa demais no filme.
Na trama, Blair tenta convencer a rainha de que deve dar maior importância à morte de Diana. A rainha, bem como toda a família real - a exceção do príncipa Charles -, não gosta da princesa nem se preocupa com a reação emocionada das pessoas.
A rainha quer tratar do fato como um assunto privado e portanto sem necessidade de manifestação dela ou da monarquia. Ela entende que Diana não pertence à família real e não tem direito a honras próprias da nobreza - mesmo sendo ela mãe dos filhos do príncipe Charles, netos da própria rainha.
É claro que todo o país pensa diferente e espera uma manifestação de pesar da nobre família. Por entender rapidamente esse sentimento no povo, Blair age de acordo e ganha a simpatia popular.
A imprensa e os milhares de fãs de Diana passam a atacar a realeza por não demonstrar dor, não valorizar o acontecimento, nem um pronunciamento público é feito. Eles querem que a bandeira do palácio seja erguida até a metade do mastro, em sinal de luto, e que a rainha abandone suas férias e visite o corpo de Diana.
É um filme que mostra a intimidade dos poderosos, trocas de telefonemas entre autoridades, negociações de bastidores, e a relação difícil entre a rainha e o primeiro-ministro. Nesse aspecto é um bom relato da história recente. A rainha Elizabeth II trata Blair com frieza enquanto ele, não obstante, parece admirá-la cada vez mais.
Está clara a contraposição entre a tradição e a modernidade no filme, inclusive com questionamento sobre a necessidade da monarquia nos tempos atuais cuja opulência custa milhões aos cofres britânicos. No fim, a realeza contorna a situação cedendo ao desejo popular.
A rainha viaja a Londres, fala ao país e visita as milhares de flores, cartões e mensagens deixadas para Diana por populares. "Uma demonstração de humildade", diz, político, Blair. "O senhor confunde humildade com humilhação", diz a rainha que faz tudo que faz muito a contragosto.
O filme não deixa de ser um interessante painel moderno sobre o governo britânico ainda que pontual, sobre um momento bem específico. É um filme cheio de sutilezas e mensagem nas entrelinhas. Não entendo, por exemplo, o que simboliza aquele alce lindo que a rainha vê em um de seus passeios e que parece mexer tanto com ela.
O fato é que a morte da "princesa do povo" desestabiliza a paz da rica família real e obriga a rainha à mudar. Em tempos em que se valoriza tanto a vida íntima das celebridades, a postura clean, discreta e protocolar da família real parece fora de lugar. Por outro lado, os afiados diálogos dos nobres não deixa de ser uma série de petardos que o próprio filme lança sobre o descortinamento dos famosos a qualquer custo.
Há inúmeras qualidades no filme de Frears, a maior delas é apresentar uma história sem maniqueísmos e com personagens bastante críveis, bem próximos do que supmos ser a realidade.
Título original: The Queen/ Direção: Stephen Frears/ Roteiro: Peter Morgan/ Elenco: Helen Mirren, Michael Sheen, James Cromwell
Nota: 6/10